sábado, 29 de junho de 2013

Projeção Mapeada - Organismos Públicos

Vejam o trabalho maravilhoso do VJ Vigas (Leandro Mendes Vigas), em que alguns de nossos artistas aparecem no espetáculo Projeção Mapeada - Organismos Públicos. Além de Fritz Alt e Hamilton Machado, também aparecem imagens do Schwanke

A primeira edição do projeto ocorreu em 2010 em Joinville, e já conta com quatro edições realizadas. A quarta edição ocorreu também em Joinville, na fachada do Museu Nacional da Imigração e Colonização. Confira o vídeo na íntegra da quarta edição que ocorreu em maio deste ano (2013):



(imagens dos artistas - 8:35 do vídeo).

"O projeto 'Projeção Mapeada - Organismos Públicos' consiste em criar uma série de espetáculos onde prédios públicos históricos são usados como interface para uma performance áudio visual gratuita em que elementos visuais gráficos e fílmicos relacionam-se em perfeita harmonia com o áudio, criando uma experiência contemplativa aos espectadores, utilizando como tela a fachada de um prédio com valor histórico para a cidade.
(...) 
A Projeção Mapeada destaca os detalhes arquitetônicos transformando-os em grafismos e elementos 3D, direcionando a atenção do espectador e levando-o através da linguagem visual a olhar detalhes as vezes despercebidos, exaltando a rica arquitetura histórica de nossos prédios públicos" (VJ Vigas).


Simplesmente, um trabalho muito bem produzido e pensado que valoriza a arte e cultura local por meio de uma linguagem contemporânea. Nós do "Arte Jlle" adoramos!!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Arte Local: Espaços de Joinville

Nessa postagem traçaremos um pequeno perfil de cada espaço cultural localizado em Joinville para que se tenha conhecimento dos diversos espaços de arte local existentes na cidade, além de uma pequena trajetória histórica para conhecermos como aconteceram suas construções e constituições.



1. Museu Casa Fritz Alt

A residência/ateliê de Fritz Alt foi por ele construída em 1946, mediante projeto conjunto com o amigo e arquiteto Paul Helmuth Keller (Alemanha, 1910-Joinville, 1992). Foi “baseada em projetos alemães das casas dos novos tempos da República de Weimar, e que pela originalidade e funcionalidade refletem a personalidade do artista” (GUERREIRO, 2007, p. 9). Antes de se tornar museu, serviu de moradia para a família Alt. Logo após a morte de Alt, em 1968, a casa foi comprada pela Prefeitura Municipal de Joinville em 1970 (Lei 1053/70), na gestão do prefeito Harald Karmann. Em 01 de setembro de 1972 é denominada “Casa Fritz Alt”, e é definido como um museu instalado na casa do artista (HEINZELMANN, 1999). 

Museu Casa Fritz Alt. Disponível em: https://sites.google.com/site/museucasafritzalt/home.
Acesso em: 09 abr. 2013.

O Museu Casa Fritz Alt foi inaugurado oficialmente em 1975. O acervo do Museu conta com móveis e objetos de uso pessoal do artista, ferramentas, fotos, obras de arte produzidas por Fritz Alt e também um grande número de moldes. Atualmente, o Museu possui um programa de ações educativas, uma exposição Itinerante que percorre as escolas do entorno de Joinville e um projeto a fim de torná-lo um ecomuseu.


2. Museu de Arte de Joinville - MAJ

O Museu de Arte de Joinville - MAJ foi criado a partir de muita insistência, pois os artistas queriam “um ambiente apropriado como incentivador e difusor das artes plásticas, além de abrigar as produções dos artistas locais” (NARLOCH apud MAJ 30 Anos, 2006). Na década de 70 a cidade de Joinville encontrava-se no auge da sua produção e expansão industrial e, a partir desse contexto, os artistas acharam justo reivindicar, frente à arte efervescente no país na época, por um espaço para expor.

Casa de Ottokar Döerffel, sede do MAJ. Foto de Salmo Duarte, Agência RBS. Disponível em: http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/variedades/noticia/2012/11/museu-de-arte-de-joinville-recebe-premio-darcy-ribeiro-2012-3963015.html. Acesso em 09 abr. 2013.

 A elaboração do Regulamento Interno e a implantação do Museu tiveram início em 1975, sendo que o MAJ foi inaugurado em 03 de setembro de 1976, depois que a residência, adquirida por Affonso Lepper, foi desapropriada em 23 de maio de 1973 devido a sua importância histórica e arquitetônica (GUERREIRO apud MAJ 30 Anos, 2006).

O Museu de Arte tem por finalidade realizar atividades artístico-culturais, além de recolher, conservar e divulgar obras de artes visuais em geral e em especial de artistas joinvilenses e catarinenses. 

3. Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior/ Escola de Artes Fritz Alt - EAFA


Com o processo de criação iniciado em 1967, a Escola de Artes Fritz Alt foi inaugurada em 1968 e oficializada através da Lei Municipal nº 394 de 26 de novembro de 1969. Em 1984, passou a ser subordinada à Fundação Cultural de Joinville (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2007). A EAFA, como também é conhecida, funcionou no antigo prédio da prefeitura, que na ocasião situava-se à Rua Padre Carlos nº 82. Em 1971, a Escola passou a funcionar provisoriamente junto à antiga Secretaria da Educação e Cultura, que na época localizava-se na Praça Nereu Ramos, nº 372. Mas, foi somente em 1972 que a Escola recebeu sede própria, junto à Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior, na Rua Dona Francisca, nº 800.

Fachada da Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior, onde funcionavam até 2011 a Escola de Artes Fritz Alt, Escola de Música Villa Lobos e Escola Municipal de Ballet. Foto de Juliana Rossi.

Os cursos oferecidos na EAFA são divididos em módulos anuais ou semestrais, nos turnos matutino, vespertino e noturno para o público infantil, juvenil e adulto. Totaliza cerca de 10 cursos na área de Artes Visuais, com média de 600 alunos ao ano. Os cursos oferecidos são: Arte Juvenil, Cerâmica, Desenho e Pintura, Escolinha de Artes Infantis, Gravura, História da Arte, História em Quadrinhos, Pintura em Porcelana, Tapeçaria e Tecelagem e Teatro.

4. Galeria de Arte Municipal Victor Kursancew

 A Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew (GMAVK) foi criada em 17 de fevereiro de 1982, pelo Decreto nº 4.461. De acordo com o Art. 1º do Regimento Interno, a GMAVK tem por finalidade: realizar exposições temporárias, contribuindo para a discussão, divulgação, difusão e fruição das artes visuais.


Abertura da Exposição "Entre Santos e Flores" da Galeria GMAVK. Homenagem a Claudia Gern, em 2011. Foto de Gleici Erica Schatzmann Kannenberg. Disponível em: http://naf-artedofogo.blogspot.com.br/2011_. Acesso em 09 abr. 2013.

 A Fundação Cultural de Joinville viabiliza os recursos necessários à execução de suas atividades e a estrutura da GMAVK é integrada pelos seguintes setores: Coordenação; Educação; Administração; Conselho Consultivo.
 A GMAVK funciona anexa à Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior e com sua interdição, está funcionando junto ao prédio da Casa da Cultura na Rua Dona Francisca, 364.

5. Associação dos Artistas Plásticos de Joinville - AAPLAJ

Além da Coletiva dos Artistas e dos Museus, um importante marco para a arte joinvilense aconteceu na década seguinte, em 11 de abril de 1983 - foi fundada a Associação dos Artistas Plásticos de Joinville – AAPLAJ, sociedade civil sem fins lucrativos. Dentre alguns dos objetivos da Associação, destacam-se o incentivo a arte/educação e a realização de exposições artísticas de cunho pedagógico; a promoção da divulgação de suas atividades e de quaisquer iniciativas que favoreçam o desenvolvimento das artes e a defesa dos interesses profissionais de seus associados perante outros grupos profissionais, poderes legalmente constituídos e autoridades administrativas (ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS PLÁSTICOS DE JOINVILLE, 1987).

Logotipo da AAPLAJ.




Localizada no Complexo Cultural Antarctica na Rua XV de Novembro nº 1383 (Galpão 13), a AAPLAJ é composta por artistas plásticos radicados em Joinville-SC, “sem distinção de nacionalidade, credo, sexo e cor, que a juízo da Diretoria da Associação, tenham condições profissionais e pessoais para integrar o quadro associativo” (ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS PLÁSTICOS DE JOINVILLE, 1987, p. 2). Os associados contribuem com um valor mensal, fixado anualmente através de Assembleia Geral Ordinária.


6. Curso de Artes Visuais da Universidade da Região de Joinville - UNIVILLE

Esse curso surgiu em função da necessidade da implantação de um curso superior para o ensino da arte em Joinville e região, “devido à carência de professores habilitados nessa área, para dar atendimento às escolas de Ensino Fundamental e Médio” (CURSO DE ARTES VISUAIS, web). 

A mudança da nomenclatura do curso e implementação do novo “Curso de Artes Visuais”, foi aprovado pela Resolução nº 09/98 Conselho Universitário e CEPE de 10 de setembro de 1998, autorizado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, com Parecer nº 241/98/CEPE de 03 de setembro de 1998. Dessa forma, o Curso de Educação Artística foi extinto pelo parecer 260/98/CEPE e Res. 17/98. É a partir do ano de 1999 e de acordo com a deliberação do Parecer n. 241/98 de 03/09/98, do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CEPE, que fica autorizado o funcionamento do Curso de Artes Visuais na Universidade. 


Acadêmicos do curso de Artes Visuais. Disponível em: http://community.univille.edu.br/depto_artes_visuais/artesvisuais/index/57368. Acesso em 09 abr. 2013.

O objetivo geral do curso de Artes Visuais é o de “formar cidadãos críticos com conhecimentos em arte e em arte na educação para atuar na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, bem como nos espaços não-formais” (CURSO DE ARTES VISUAIS, web).


Referências:

ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS PLÁSTICOS DE JOINVILLE. Estatuto Social. Joinville, SC, 1987.

CURSO de Artes Visuais. Disponível em: <http://community.univille.edu.br/depto_artes_visuais/artesvisuais/index/57368>. Acesso em 01 abr. 2013.

GALERIA DE ARTE MUNICIPAL VICTOR KURSANCEW. Regimento Interno. Joinville, SC, 2012.

GUERREIRO, Walter de Queiroz. Fritz Alt: a vontade do desejo. Joinville: Letra d´água, 2007, 1ª edição.

HEINZELMANN, Silvia. Fritz Alt. Joinville: Fundação Cultural, 1991.

MAJ 30 Anos. Joinville: Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura, 2006.

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Escola de Artes Fritz Alt. Fundação Cultural, Joinville, 2007.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

VICTOR KURSANCEW

Biografia - parte II
(clique aqui para ler a parte I)

Conhecido como o “teimoso simpático” por suas opiniões firmes e irrevogáveis, Victor fez muitas amizades também em Joinville. Segundo Szabunia (1980), Kursancew foi um dos grandes amigos de Fritz Alt, além de Antônio Mir e Edson Machado. Mesmo pela amizade e bom relacionamento com Mir, que fazia com que os dois ficassem durante horas conversando sobre artes plásticas, “Victor era sincero em relação ao trabalho de Mir, o qual não lhe agradava” (SZABUNIA, 1980).

Autorretrato. óleo s/ tela. 0,50x0,58m. Data desconhecida. Disponível em: https://docs.google.com/presentation/d/1wnr86IRMWFKx_vM6YEA0vLinL_yTj6OgsugohVJihE4/edit?authkey=CLfYjKEE

Passava horas conversando,
principalmente se a pessoa demonstrava cultura e se houvesse uma ou mais garrafas por perto. Conversando e bebendo Victor “ia longe”. Seu nível cultural era impressionante, estando sempre a par de qualquer assunto. Seu filho Francisco conta que “entre uma e outra birita o velho se abria, e podia entreter uma pessoa durante horas a fio” (SZABUNIA, 1980).



Retrato Sr. Moreira. Óleo s/ tela. 0,50x0,55m. Data desconhecida. Idem referências da primeira imagem.

Uma reunião com amigos, regada à cerveja, era uma das coisas que mais gostava; tinha “espírito boêmio” (SZABUNIA, 1980). Sentia-se bem também com a solidão – “não foram poucas as vezes em que era surpreendido dormindo – tarde da noite – em uma cadeira, depois de ter passado algumas horas divagando, filosofando” (SZABUNIA, 1980).

Considerava-se “bom vivant”, “tratando de aproveitar o que a vida podia lhe oferecer de bom. Não pensava muito no futuro, olhando mais o momento atual. Detestava a mesquinhez. Adorava a arte” (SZABUNIA, 1980).

Retrato de Conrado Koening. Óleo s/ algodão. 0,51x042m. 1978. Idem imagem acima.

Profundo pesquisador da pintura em geral e do processo cultural em geral, seu material de pesquisa continha inúmeros livros sobre arte, sendo que alguns eram muito antigos e escritos em alemão.

Anexa à Casa da Cultura, há a Galeria Municipal de Arte que, em sua homenagem, leva seu nome. Fundada em 1982, dois anos após sua morte, lá acontecem exposições de artistas contemporâneos itinerantes e de alunos da Escola de Artes Fritz Alt. Porém, a única tela que compõe o acervo é um quadro de 1984 que retrata Santos Dumont, entre as 324 peças da galeria (MAZZARO, 2010). A instituição também possui um livro onde há o levantamento de 90 produções documentadas.

Girassóis. Óleo espatulado s/ tela. 0,90x0,75m. data desconhecida.

Em 2007, uma retrospectiva na Galeria aconteceu em função das comemorações de 25 anos de existência e revitalização. A mostra foi denominada “Homenagem a Victor Kursancew”, com cerca de 30 obras, entre elas a série de aquarelas “Joinville Antiga”. Nessa série, “[...] é possível resgatar registros de lugares que não existem mais, como o coreto de Joinville no Jardim Lauro Mûller – criado em 1928 e demolido em 1938 [...] [além da] antiga residência de Ottokar Doerffel que hoje abriga o Museu de Arte de Joinville” (SCHMITZ, 2007, p. 2).

Kursancew não conseguia sobreviver apenas como artista plástico, e passou a trabalhar intensamente com publicidade, usando dos mais diversos materiais para eternizar a criatividade (VICTOR, 2011, p. 28), além das aulas que lecionava na Casa da Cultura (MAZZARO, 2010).

Residência Ottokar Doerfell (hoje MAJ). Série Joinville Antiga. Aquarela. 0,28x0,21m. 1972

Era extremamente exigente e crítico em tudo que se relacionava com arte, “principalmente pintura, que era sua ocupação mais constante. De estilo acadêmico, manteve-se fiel a esta linha, e seus trabalhos são verdadeiros estudos cromáticos” (SZABUNIA, 1980). De formação acadêmica, era “possuidor de grande habilidade em retratos. Dedicou-se também ao desenho e à pintura comercial” (LAMAS, 1992, p. 16).

Os amigos pintores europeus que o influenciaram, segundo Szabunia (1980) foram: Ilie Repin, Alexey Serow e Otto Dix, “com quem mantinha contatos proveitosos no campo da arte. Sua morte, aos 61 anos, deixou uma lacuna no movimento artístico joinvilense” (SZABUNIA, 1980).

Casa Enxaimel. óleo s/ tela. 0,80x0,63m. data desconhecida. Idem dados imagem acima.

 Pai de oito filhos, sustentava a família. Boêmio, gostava dos amigos e era poderoso na hora de argumentar, relembra as filhas Maria Angélica e Helene em notícia publicada no Jornal A Notícia (2011). No início da carreira, muitas vezes não conseguia suprir os gastos com o que vendia, pois necessitava importar os materiais de pintura.

Segundo Mazzaro (2010), o ateliê de Victor hoje é a sala onde Marianne, sua viúva, assiste TV e recebe os filhos. O cavalete que antes servia de instrumento de trabalho, hoje serve como objeto de decoração da família. O maior acervo de obras hoje se encontra na casa de Marianne; sua casa parece uma galeria particular de obras de Kursancew, mas a filha Angélica afirma que gostaria que seu “[...] pai tivesse um espaço onde as pessoas pudessem conhecê-lo” (apud MAZZARO, 2010).

Retrato de Helene (filha do artista). Crayon. 0,38x0,33m. 1965. Idem dados imagem acima.

Logo que se aposentou, veio a falecer em 1980 em São Francisco do Sul, vítima de um aneurisma cerebral, aos 60 anos. Deixou para a família poucas obras que hoje se encontram com sua mulher e seus filhos mais velhos. A filha Angélica perdeu o pai quando tinha 18 anos, e afirma que o pai estava no auge da carreira - “eu o via fazendo retratos de clientes e sempre sonhei que um dia eu pudesse posar para ele, mas não deu tempo, ele partiu antes”.

Em maio de 1979, teve seu primeiro derrame cerebral, o que fez com que tomasse uma decisão inédita de ir para a Enseada sozinho, não sabendo que seria sua última viagem. Alguns dias depois, teve um segundo derrame, ocasionado por um aneurisma no cérebro, vindo a falecer pouco depois do meio-dia, “causando um sério desfalque ao movimento artístico de Joinville” (SZABUNIA, 1980).


(clique aqui para ler a parte I)



Referências

LAMAS, Nadja de Carvalho. Eugênio Colin: o pintor joinvilense. Faculdade de Arte do Paraná. Curso de pós-graduação em nível de especialização em Fundamentos Estéticos para Arte-Educação. Curitiba, 1992. 33p.

MAZZARO, Rafaela. Lutando pela própria arte. Jornal A Notícia, Joinville, 12 mai. 2010. Anexo, p. 1.

SCHMITZ, Cristiane. Redescobrindo Kursancew. Jornal A Notícia, Joinville, 22 mar. 2007. Anexo, p. 2.
SZABUNIA, Roberto. Victor Kursancew, acima de tudo amante da arte. Jornal A Notícia, Joinville, 6 mar. 1980.

VICTOR KURSANCEW. Disponível em: <http://galeriavkjoinville.blogspot.com.br/>. Acesso em 13 set. 2012.

VICTOR Kursancew, o boêmio rigoroso. Jornal A Notícia, Joinville, 9 mar. 2011. Anexo, Caderno de aniversário do A Notícia, p. 28.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

FRITZ ALT - parte II

Biografia - parte II
(clique aqui para ler a parte I)

O prédio atual da Sociedade Harmonia Lyra[1], tem esculpido em suas paredes, máscaras com coroas de louros feitas pelo artista, além de outros detalhes arquitetônicos. Certa vez, quando ia para uma noite de gala na Harmonia Lyra, por estar com a roupa suja de argila, "Ao ouvir dos porteiros que não poderia entrar sem gravata borboleta, foi até a sua casa e retornou à Lyra mais tarde - sem camisa e com uma gravata" (SCHWARZ, 2007).

Mascarões na fachada do Teatro Harmonia Lyra. Fotografia de Walter de Queiroz Guerreiro. Disponível em: http://www.mubevirtual.com.br/pt_br?Dados&area=busca&tipo=autor&autor=fritz%20alt

Segundo Guerreiro (2007), a primeira obra pública inaugurada no Brasil produzida por Alt foi realizada em 1925, um busto em bronze de Dona Francisca, que hoje se encontra na rua das Palmeiras, no Centro de Joinville. Esse busto foi encomendado em comemoração aos 75 anos da cidade pelo Dr. Marinho Lobo. 

O busto da Dona Francisca foi inaugurado em 9 de março de 1926, enquanto que o busto de Duque de Caxias foi inaugurado em 25 de agosto daquele mesmo ano. Mas, é provável que o gesso de Duque de Caxias antecedeu o bronze pelas dificuldades técnicas (GUERREIRO, 2007).

Busto de Dona Francisca. Foto de Cleber Gomes, extraída na reportagem "Busto Dona Francisca sofre ação de vândalos em Joinville". Disponível em notícia do Diário Catarinense: http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/noticia/2012/08/busto-dona-francisca-sofre-acao-de-vandalos-em-joinville-3848159.html.

Segundo o crítico de arte Walter de Queiroz Guerreiro (2007, p. 9) no busto de Dona Francisca "por um lado Fritz Alt obedece aos cânones clássicos, por outro adota uma síntese, introduzindo um ritmo em que as linhas contornam a figura, próximo ao Art Déco" (GUERREIRO, 2007, p. 9).

Em 1925 fica noivo de Léa Richlin, uma jovem de tradicional família joinvilense e frequenta a loja maçônica “Amizade Alemã ao Cruzeiro do Sul”. Assim, com o noivado e a vida em Joinville tomando rumo, passa a ver tudo com mais otimismo, e percebe que era uma época alegre e bela (HEINZELMANN, 1992).

Alt teve três filhos com Léa: Gehrardt Ludwig, Ingeborg Alice e Gisela Regina, “marcados pelo relacionamento complexo entre o amor e a boemia do artista” (GUERREIRO, 2007, p. 9). Muitas vezes suas atitudes o levavam  a excessos alcóolicos e “atitudes de confronto com as normas vigentes na cidade” (GUERREIRO, 2007, p. 9).

Fotografia de Fritz Alt. Autoria desconhecida. Disponível em: http://wp.clicrbs.com.br/anmemoria/2012/03/10/an-memoria-sabado-fritz-alt/?topo=84,2,,,,77

As longas ausências, a companhia com a bebida faziam com que muitas vezes o relacionamento com Léa estremecesse, sendo que Fritz certa vez confessou à amiga e discípula Edith Wetzel: “Eu também não queria ser casado comigo” (HEINZELMANN, 1992, p. 31). Heinzelmann (1992) conta que um certo dia Fritz saiu de casa para comprar a carne do dia seguinte mas, às dezessete horas, o Stammtisch chamou sua atenção para tomar uma cerveja e uma conversa – “no final da tarde do dia seguinte – em casa todos preocupados – Fritz lembrou da carne, esquecida e toda podre no selim da bicicleta” (HEINZELMANN, 1992, p. 31). 

Tinha temperamento inquieto e, por ser extrovertido, simpático e sincero, construiu um vasto círculo de amizades na década de 30. Tanto no seu ateliê quanto fora de casa tornou-se centro de debates culturais e formador de opiniões, pois tinha fascínio pela arte, religião e filosofia, “a ponto de copiar textos lidos, acrescentar ideias próprias e discuti-las” (GUERREIRO, 2007, p. 9). 

Com esses contatos, criou obras de arte funerária, projetando obras em granito e bronze, tradicional forma de sustento de escultores. Em 1936, Produziu algumas obras-primas para a EFA (Exposição de Flores e Artes), exposição anual de flores e trabalhos anuais, como “O Friorento” e “Wieland, o Ferreiro”. 

"O Friorento", imagem extraída da reportagem "Verbete de bronze", de Rodrigo Schwarz. Jornal A Notícia de 25 de julho de 2007. Disponível em: http://www.an.com.br/anexo/2007/jul/25/0ane.jsp.

Além dos trabalhos em escultura, Fritz Alt fazia o planejamento dos jardins da EFA. Fritz entregava suas esculturas sempre de última hora e, “enquanto os demais iam para casa colocar uma roupa social, Fritz ficava, esquecido da hora entre uma cerveja e outra, e assim participava das solenidades de abertura” (HEINZELMANN, 1992, p. 28).

Dentre algumas obras em locais públicos de Joinville, destaca-se o “Monumento ao Imigrante”, instalado em 1951 na praça da Bandeira no Centro de Joinville em comemoração ao centenário de Joinville. Neste monumento, há

um imigrante, empunhando um machado, e um nativo, com uma espingarda. Na época da produção da escultura, Fritz comentou com um amigo: ‘O caboclo diz o seguinte para o imigrante alemão: a terra está aqui para ser usada, faça bom uso e seja bem-vindo, mas não esqueça de que estou armado’ (SCHWARZ, 2007).

Monumento do Imigrante, foto de Rogério da Silva, extraída da reportagem "Precursor das artes plásticas", de Rafaela Mazzaro, do  jornal A Notícia de 13 de maio de 2010. Disponível em: http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2901914.xml&template=4187.dwt&edition=14682&section=1186

Esse Monumento surgiu a partir de Rolf Wetzel, idealizador da Sociedade Amigos de Joinville, em 1947, onde “Fritz Alt firma contrato e cria a obra que sintetiza as origens da cidade e irá consagrá-lo junto à população” (GUERREIRO, 2007, p. 10). Erguido próximo ao Marco Zero da cidade, na praça da Bandeira, perto do local onde os primeiros imigrantes desembarcaram, próximo ao Rio Cachoeira (HEINZELMANN, 1992).

Monumento aos Imigrantes, de Fritz Alt. Foto de Juliana Rossi.

De acordo com a documentação da época, “o projeto inicial previa dois grandes triângulos em granito com altos-relevos sobre o homem do campo e o da cidade, possivelmente em momentos históricos diversos” (GUERREIRO, 2007, p. 23). 

Como é provável que esses triângulos sairiam com um alto custo e cerca de cinco anos de serviço (HEINZELMANN, 1992), o projeto foi inviabilizado, fazendo com que Fritz Alt adotasse uma construção arquitetônica neoclássica, pois “dispõe o grupo de personagens em bronze em torno de pedestal de granito, que pela dramaticidade dos gestos expressa mensagem do romantismo e de um ideal: a instalação na nova terra” (GUERREIRO, 2007, p. 10). Segundo Guerreiro (2007), os dois grupos representam o passado e o futuro dos imigrantes, as  gerações e a construção da família, deixando à tona  imagem do passado-presente.

Detalhe do Monumento ao Imigrante, de Fritz Alt. Foto de Juliana Rossi.

Através dos dois homens empunhando a arma de fogo e o machado, Alt representou aqui a tomada de terra e o desbravamento. 
A mulher com seus pertences num baú e os dois filhos, “expressam a construção da família e das gerações futuras” (GUERREIRO, 2007, p. 23) e “futuro da nova pátria, a geração seguinte” (HEINZELMANN, 1992, p. 93). O monumento em suas laterais possui dois relevos que representam a chegada através do oceano, um com a Barca Colon na baía de São Francisco do Sul, com a vista da cidade, e outro que simboliza a penetração terra-adentro pela imigrante, através da subida da Serra Dona Francisca com carroças (HEINZELMANN, 1992; GUERREIRO, 2007).

Detalhe do Monumento ao Imigrante, de Fritz Alt. Foto de Juliana Rossi.

Alt gostava muito de ouvir música clássica, o que o levou a criar algumas esculturas de seus autores favoritos: Mozart (da qual existem apenas referências), Wagner, Chopin e Beethoven. Beethoven foi modelado numa postura romântica, “como se fora vivo, a expressão austera e turbulenta das paixões da vida, a cabeleira revolta captada num átimo do tempo” (GUERREIRO, 2007, p. 10).

O escultor revela uma certa obsessão pela transitoriedade da existência, pois foi influenciado pelas leituras de Nietzsche, por sua experiência com a Primeira Guerra Mundial e por sua própria existência. É nesse contexto que cria a máscara “A Vida e a Morte”, simbolizando a metamorfose, “a revelação esotérica do homem, que passa pela iniciação na qual Cristo é o símbolo supremo da transformação” (GUERREIRO, 2007, p. 10).

Vida e Morte, de Fritz Alt. Fotografia copiada do livro "Indicador Catarinense das Artes Plásticas", de Harry Laus e Nancy Therezinha Bortolin (2010). 

Na década de 50, realizou muitos monumentos públicos, como os de João Colin, no final da Rua João Colin em Joinville, Lauro Müller (em Florianópolis), Marcílio Dias (Mafra), Emilio Carlos Jordan (Jaraguá do Sul), Orestes Guimarães (São Francisco do Sul), Vidal Ramos (Rio do Sul) e Ermembergo Pelizetti (Ibirama). É também nesse período que irá produzir dois painéis em mosaico, no SESI e na Biblioteca Pública Rolf Colin. 

Monumento a João Colin, de Fritz Alt. Fotografia de Walter de Queiroz Guerreiro. Disponível em: http://www.mubevirtual.com.br/pt_br?Dados&area=busca&tipo=autor&autor=fritz%20alt

No mosaico do prédio do SESI – Serviço Social da Indústria, cerca de 58.015 pastilhas de vidro compõem a obra (5 m por 4,5m). Em 2006, foram enviadas uma a uma em Florianópolis para processo de restauração para enfim serem realocadas em nova sede do SESI. Em Florianópolis, todos os componentes do mosaico passaram por uma limpeza química, removendo a sujeira proveniente de mais de meio século de exposição aos gases emitidos pelos carros que trafegam pela rua Ministro Calógeras (SCHWARZ, 2006).

Painel de mosaico do Sesi, de Fritz Alt. 1949. Dimensões de 500 x 450 cm. Rua Ministro Calógeras, 195. Foto extraída do site: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id121.html

Em 1955 foi feito o mosaico da Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin que, em sua parede frontal, tem proporções de 10 por 6,5 m. Nesse mosaico, é traçada uma evolução permanente do homem, “como uma linha constante ascendente que remete a Hegel e seus estágios de desenvolvimento do espírito” (GUERREIRO, 2007, p. 16). Há alegorias ao trabalho manual que caminha para o intelectual, “mostrando a evolução íntima do homem, do ser inconsciente ao onisciente” (GUERREIRO, 2007, p. 16).
Painel de mosaicos da Biblioteca Pública de Joinville, de Fritz Alt.. Disponivel em: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id121.html

Além de ser um escultor dedicado a obras tridimensionais, trabalhos em cimento, estuque nas artes decorativas e relevos, a criação artística de Alt estende-se a outras linguagens que abrangem bicos-de-pena, desenhos, aquarela e pintura a óleo (GUERREIRO, 2007), mesmo que grande parte de sua produção não foi localizada.

Em 2008 tornou-se destaque no Dicionário da Escultura no Brasil, depois de 40 anos de sua morte. Redigida por José Roberto Teixeira Leite, o artista foi incluído a partir do crítico e autor do livro “Fritz Alt: vontade do desejo”, Walter de Queiroz Guerreiro, que enviou o livro a José Roberto. Silvia Heinzelmann também escreveu uma biografia sobre o escultor, em 1992.

Imagem de Fritz ALt trabalhando no busto de Lucy Paes, retirada da notícia"Verbete de bronze", de Rodrigo Schwarz. Jornal A Notícia de 25 de julho de 2007. Disponível em: http://www.an.com.br/anexo/2007/jul/25/0ane.jsp

Alt faleceu em 1968, no dia 15 de março, quase em frente ao Monumento do Imigrante, “[...] enquanto percorria o trajeto de casa com sua inseparável bicicleta” (MAZZARO, 2010), dois dias após a inauguração da Escola de Artes que leva seu nome, anexa à Casa da Cultura. Neste dia,
[...] irá proferir, a contragosto, uma vez que não gostava de atuar como professor, uma palestra inaugural sobre história da arte. Fatalidade ou emoção, no dia seguinte após discussão com seu vizinho, o historiador Carlos Ficker, por uma questão de divisas de terras, sobre infarto do miocárdio com parada cardiorrespiratória (GUERREIRO, 2007, p. 11).

Em seu enterro refletiu-se o ecletismo de seus interesses, pois havia representantes da Maçonaria, do Exército, da Igreja, do Exército, inúmeros amigos inclusive dos segmentos políticos e culturais (HEINZELMANN, 1992).

Em 10 de dezembro de 2012, foi disponibilizado digitalmente o acervo do museu. O endereço para consultar o acervo é http://museu.univille.br:8080/consultamuseu/.

Pietá de Fritz Alt. Foto: Lysandro Lima. Disponível em: http://www.sctur.com.br/joinville/museu_fritz_alt.asp

Teve como discípulo Mário Avancini e, “juntamente com Eugênio Colin e Victor Kursancew é considerado pioneiro das artes plásticas na cidade e esta é a sua principal importância”, afirma Francisco Cardoso, no artigo “O Famoso Desconhecido Fritz Alt e sua Casa”, publicado em 17 de agosto de 1988 no Jornal “A Notícia” (HEINZELMANN, 1992). Fritz “não tinha apego material às coisas. Gostava de arte, gostava de música, gostava de beber e conversar com os amigos, e nisso se resumia o seu universo” (VIEIRA, 1989 apud HEINZELMANN, 1992, p. 102).

(clique aqui para ler a parte I)

Conheça mais sobre o artista: http://artejlle.blogspot.com.br/p/fritz-alt.html



[1] A Sociedade Harmonia Lyra é um local tradicional de eventos culturais, sociais e artísticos da sociedade joinvilense. Originada da fusão entre a Sociedade Harmonia (antiga Harmonie Gesellschaft) e a Sociedade Musical Lyra, foi fundada em 31 de maio de 1858. Atualmente, conta com um salão de festas para 650 pessoas, espaço para shows com capacidade para 140 lugares e um restaurante com 50 lugares. Esses espaços são usados também para bailes, formaturas, casamentos e shows.


Referências

FRITZ Alt, o artista ancestral. Jornal A Notícia, Joinville, 9 mar. 2011. Anexo, Caderno de aniversário do A Notícia, p. 30.

GUERREIRO, Walter de Queiroz. Fritz Alt: a vontade do desejo. Joinville: Editora Letra´dágua, 2007. 1ª edição.

HEINZELMANN, Silvia. Fritz Alt. Joinville: Fundação Cultural, 1991.

MAZZARO, Rafaela. Percursos das artes plásticas. Jornal A Notícia, Joinville, 13 mai. 2010. Anexo, p. 1.

SCHWARZ, Rodrigo. Verbete de bronze. Jornal A Notícia, Joinville, 25 jul. 2007. Anexo, p. 1.

______. Vida nova ao trabalhador: Restauração de mosaico recupera obra monumental de Fritz Alt, baluarte das artes plásticas de Joinville. Jornal A Notícia, Joinville, 15 out. 2006. Anexo, p. 2.


TERRAS da princesa brasileira abrigam arte musiva do alemão Fritz Alt. Disponível em: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id121.html. Acesso: 15 jan. 2013.